“Não nos dizem para sermos livres e responsáveis”
Livre, responsável, será que nós seres humanos sabemos realmente o que isso significa? Será que nos damos conta da importância que as palavras liberdade e responsabilidade possuem em nosso cotidiano? Provavelmente não, pois culturalmente fomos “instruídos” a determinar lugares específicos quando nos referimos a liberdade e responsabilidade, lugares marcados para fazer do humano um agente dominado.
A liberdade é sempre colocada como um direito individual, algo pertencente a um narcisismo primário, onde o outro não pode pertencer ao seu ser livre, onde o lugar do outro é negado, só aparecendo quando o próprio eu da pessoa acaba por tirar de cena seu direito de liberdade, assim, a liberdade só é minha se ela não for sua e, quando ela for sua, não será mais minha, então, somos livres?
Quando nosso discurso fala de um lugar da responsabilidade, normalmente este lugar é o lugar da moral, da disciplina, da organização, da limpeza, limpeza esta que já provocou no mundo todo, atos de crueldade e injustiça para conosco.
Temos a responsabilidade em fazer o que a Lei afirma como correto: prender, organizar, limpar... , assim, o que de fato nos faz responsáveis? Somos responsáveis por quem? A nossa sociedade demonstra que somos responsáveis por nós mesmos e, tão somente por nós mesmos.
Liberdade e responsabilidade se encontram em um lugar individualizado, onde cada um de nós vê o outro somente como mais um indivíduo. Consideramo-nos livres apenas quando o outro não faz parte dessa liberdade, somos responsáveis por nós mesmos, pelos nossos atos, pelas nossas escolhas, mas consideramos perigoso termos a responsabilidade de sermos parte de uma mesma realidade, que "mata", "fere", "dói", "chora".
Como podemos ser livres e responsáveis, se a maioria de nós não é! Estamos dominados por nós mesmos, silenciados, esperamos sempre por algo que nos tire das condições desfavoráveis, que facilite as escolhas, pois escolher é difícil. Mas, mais difícil ainda é não ter o que escolher: não poder decidir se quer comer feijão ou uma outra coisa, não poder decidir entre aceitar ou rejeitar, não poder decidir entre o que se quer para si e, o que os outros querem para você.
Não nos dizem para sermos livres e responsáveis, embora nos digam para termos responsabilidade com a nossa liberdade, somos prisioneiros de responsabilidades distintas e livres para escolher, é o que nos dizem, e assim acreditamos.
Iêda Maciel - Psicóloga